sábado, 10 de dezembro de 2011

É a razão como lei
É a racionalidade essa minha defesa
Para controlar-me dos impulsos
E me proteger de mim mesma
Eu
Meu maior inimigo
E a razão minha aliada
Razão desodorante
Transpirar transpira
Mas não fede
Porque o verdadeiro do que se é
Fede.

Maria Amélia

sábado, 1 de outubro de 2011

Eu queria voltar no tempo
E sentir como antes
Onde a displicência não tinha lugar
Onde eu ainda acreditava em tudo
E seu ânimo brilhava
E seus olhos queriam
Mas sempre o inevitável
Eu e meu olhar cinza.

Maria Amélia

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Ele já me escreveu Drummond
Escreveu Pessoa
Agora escreve silêncio
E eu leio passiva
Mas máquinas de moto-contínuo não existem
Não sei se violarei a lei
Ou se citarei Luís de Camões.

Maria Amélia

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Eu sempre erro a prosódia do sentir
A procura infinita de classificar coisas
Morfologia inútil
Que nos impede de pensar
 Vou com palavras graves
E você fica monossílabo
“chuva de pedra palavras, distribuindo pauladas”
Diria  Paulo Leminski.
As vezes somos testamentos
Enquanto deveríamos ser haikais
curto
simples
e elementar.
Maria Amélia

quinta-feira, 16 de junho de 2011

nosune

O que me se parou do Chile
Foram os pombos
E não o vulcão
O detalhe ou o insignificante
É o que nosune ou se para.

Maria Amélia

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Escândalo interno
De um corpo subvertido de valores
Na ferida aberta no meu estômago
Está meu vômito engolido novamente
A repetição do podre, do pobre,
Do nada que me faz fraco
Pessoas do avesso
Pessoas que confudem
Que se iludem, que se misturam
Eu não quero acreditar em quem sou, em quem és
Espero ansiosa a morte
A morte do sofrer
Do me ver
A morte do desacreditar
Essa agonia sem fim
Esse ser umano ou humano
De fezes e falas
De ferida e de flor
E beleza e estranheza
Não me reconheço em nada
Em coisa alguma
Em coisa pessoa alguma
Gosto do cílio que cai lentamente
Daquele canto de olho perverso
Desse olhar imerso no nada
Gosto do oco, do louco, do vazio, da falta
Do seu ombro esquerdo
Dos seus olhos cansados e vermelhos
Da olheira que se inicia como se coresse em direção ao rio aquele mar de lágrimas quentes
Que se transformam em frias perguntas
Que se perdem perigosamente dentro de nós
Gosto do que não sei, do que não vejo, do impreciso, do indeciso
Porque por ser desconhecido ainda não dói, ainda não sente, ainda não é, ainda não ama
Eu não quero mais pensar
Pensar dói
Pensar ofende
Pensar perfura
Pensar machuca
Pensar traz morte
Traz  enjôo
Quero ficar só, sozinha no meio do nada
Talvez no meio daquele vômito engolido novamente no meu estômago
Só com a lembrança do seu cílio que cai
Do seu triste e perverso canto de olho
Do seu ombro esquerdo
E do seu iniciar de olheiras
No meio de uma grande e infinita plantação de pontos de interrogação
Cuja grama é verde, verde.

Maria Amélia

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Maníacos de Qualidade

Antes de fugir para o Brasil, D. Maria I já se encontrava louca. Passava por períodos de frenesi e supunha que o seu próprio corpo estava oco. No Rio de Janeiro, imaginava que o Diabo se escondia no Pão de Açúcar. Como foi que a vida sexual de D. Afonso VI e os seus órgãos genitais acabaram escrutinados num tribunal que ambicionava demonstrar que o soberano era impotente, louco e incapaz de governar? Hoje é possível entender os bastidores das ações destes monarcas?

O Marquês de Pombal encontrar-se-ia tão obcecado com os jesuítas que só admitia conversas que os visassem. Entre os muitos que encarcerou e matou, conta-se o padre Malagrida. Qual dos dois era menos equilibrado? O iluminista que do beato fez herege para o queimar na fogueira ou o roupeta-preta que assumia a autoria de milagres e exorcismos? Um dia, Antero de Quental sentou-se num banco de um jardim público e deu dois tiros na cabeça. Porque foi que esse poeta-herói encerrou assim a sua vida? Fernando Pessoa revelou, desde cedo, uma grande preocupação com a sua própria sanidade mental, adoptando diferentes classificações psiquiátricas para si mesmo. Estaria louco ou apenas com medo?

A psicóloga clínica Joana Amaral Dias traça o retrato psicológico destas e de outras personagens tidas como loucas. Baseada numa investigação histórica cuidada e na leitura de escritos e registos biográficos e autobiográficos - cartas, diários, etc. -, a autora revela-nos a dor psiquíca destas figuras, bem como o seu respectivo diagnóstico clínico.

Porém Joana Amaral Dias vai mais longe e, nesta viagem aos universos mentais de portugueses célebres, questiona os rótulos com que estes foram marcados e os tratamentos a que foram sujeitos - da fogueira a sanguessugas, dos banhos gelados aos choques eléctricos, das tareias ao apedrejamento.

Uma reflexão original sobre a forma como ao longo dos tempos a sociedade encarou a doença mental e acerca das alianças que a Psiquiatria estabeleceu com o poder e a própria loucura.
Maníacos de Qualidade de Joana Amaral Dias
Pessoas maníacas de qualidade é uma expressão do séc. XXVIII, na qual  era empregue para designar indivíduos célebres com psicopatologia.



                       Histero-Neurastênico
"Começo pela parte psiquiátrica. A origem dos meus heterónimos é o fundo traço de histeria que existe em mim. Não sei se sou simplesmente histérico, se sou, mais propriamente, um histero-neurasténico. Tendo para esta segunda hipótese, porque há em mim fenómenos de abulia que a histeria, propriamente dita, não enquadra no registo dos seus sintomas. Seja como for, a origem mental dos meus heterónimos está na minha tendência orgânica e constante para a despersonalização e para a simulação. Estes fenómenos — felizmente para mim e para os outros — mentalizaram-se em mim; quero dizer, não se manifestam na minha vida prática, exterior e de contacto com os outros; fazem explosão para dentro e vivo-os eu a sós comigo. Se eu fosse mulher — na mulher os fenómenos histéricos rompem em ataques e coisas parecidas — cada poema de Álvaro de Campos (o mais histericamente histérico de mim) seria um alarme para a vizinhança. Mas sou homem — e nos homens a histeria assume principalmente aspectos mentais; assim tudo acaba em silêncio e poesia.

Isto explica, tant bien que mal, a origem orgânica do meu heteronimismo. Vou agora fazer-lhe a história directa dos meus heterónimos. Começo por aqueles que morreram, e de alguns dos quais já me não lembro — os que jazem perdidos no passado remoto da minha infância quase esquecida.

Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. (Não sei, bem entendido, se realmente não existiram, ou se sou eu que não existo. Nestas coisas, como em todas, não devemos ser dogmáticos). Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos, carácter e história, várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis e minhas como as coisas daquilo a que chamamos, porventura abusivamente, a vida real. Esta tendência que me vem desde que me lembro de ser um eu, tem-me acompanhado sempre, mudando um pouco o tipo de música com que me encanta, mas não alterando nunca a sua maneira de me encantar.

Lembro, assim, o que me parece ter sido o meu primeiro heterónimo, ou, antes, o meu primeiro conhecido inexistente — um certo Chevalier de Pas dos meus seis anos, por quem escrevia cartas dele a mim mesmo, e cuja figura, não inteiramente vaga, ainda conquista aquela parte da minha afeição que confina com a saudade. Lembro-me, com menos nitidez, de uma outra figura, cujo nome já não me ocorre mas que o tinha estrangeiro também, que era, não sei em quê, um rival de Chevalier de Pas… Coisas que acontecem a todas as crianças? Sem dúvida — ou talvez. Mas a tal ponto as vivi que as vivo ainda, pois que as relembro de tal modo que é mister um esforço para me fazer saber que não foram realidades.

Esta tendência para criar em torno de mim um outro mundo, igual a este mas com outra gente, nunca me saiu da imaginação. Teve várias fases, entre as quais esta, sucedida já em maioridade. Ocorria-me um dito de espírito, absolutamente alheio, por um motivo ou outro, a quem eu sou, ou a quem eu suponho que sou. Dizia-o imediatamente, espontaneamente, como sendo de certo amigo meu, cujo nome inventava, cuja história acrescentava, e cuja figura — cara, estatura, traje e gesto — imediatamente eu via diante de mim. E assim arranjei, e propaguei, vários amigos e conhecidos que nunca existiram, mas que ainda hoje, a perto de trinta anos de distância, ouço, sinto, vejo. Repito: sinto, vejo… E tenho saudades deles.”

in Carta a Adolfo Casais Monteiro sobre a gênese dos heterónimos, de 13 de Janeiro de 1935


http://www.rubedo.psc.br/Artigos/histneur.html
"Como termina um amor? - O quê? Termina? Em suma ninguém - exceto os outros - nunca sabe disso; uma espécie de inocência mascara o fim dessa coisa concebida, afirmada, vivida como se fosse eterna. O que quer que se torne objeto amado, quer ele desapareça ou passe à região da amizade, de qualquer maneira, eu não o vejo nem mesmo se dissipar: o amor que termina se afasta para um outro mundo como uma nave espacial que deixa de piscar: o ser amado ressoava como um clamor, de repente ei-lo sem brilho (o outro nunca desaparece quando e como se esperava). Esse fenômeno resulta de uma imposição do discurso amoroso: eu mesmo (sujeito enamorado) não posso construir até o fim de minha história de amor: sou o poeta (o recitante apenas do começo); o final dessa história, assim como a minha própria morte, pertence aos outros; eles que escrevam romance, narrativa exterior, mítica."

FRAGMENTOS DE UM DISCURSO AMOROSO

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O coração era todo de ferro
Com corda para subir
Ou se enforcar


Precursor de mola
Que segue
Ou pára no tempo
Feito de pêlo de porco
Que por pouco
Acelerou minha vida
Por menos um pouco
Eu era nada!
Prestigiado era,
Mas o tempo passa rápido.

Maria Amélia
CLIQUE para LER


“A linguagem é uma pele: esfrego minha linguagem contra o outro.
É como se eu tivesse palavras ao invés de dedos,
ou dedos na ponta das palavras.
Minha linguagem treme de desejo.

FRAGMENTOS DE UM DISCURSO AMOROSO



"Ninguém tem vontade de falar de amor, se não for para alguém."

(Proust) Por vezes toma-me uma idéia: ponho-me a escrutar longamente o corpo amado (tal como o narrador, diante do sono de Albertina. Escrutar quer dizer vasculhar: vasculho o corpo do outro, como se quisesse ver o que há dentro, como se a causa mecânica de meu desejo estivesse no corpo adverso (sou como aqueles meninos que desmontam um despertador para saber o que é o tempo). Essa operação se conduz de um modo frio e espantado; estou calmo, atento, como se estivesse diante de um inseto estranho, do qual bruscamente não tenho mais medo. Certas partes do corpo são particularmente próprias a esta observação: os cílios, as unhas, o nascimento dos cabelos, os objetos muito parciais. É evidente que estou, então, fetichizando um morto. Prova disso é que, se o corpo que escruto sai de sua inércia, se se põe a fazer alguma coisa, meu desejo muda; se, por exemplo, vejo o outro pensar, meu desejo deixa de ser perverso, volta a ser imaginário, volto para uma Imagem, para um Todo: de novo, amo.

(Eu via tudo de seu rosto, tudo de seu corpo, friamente: seus cílios, a unha de seu artelho, a fineza de suas sobrancelhas, de seus lábios, o esmalte de seus olhos, tal pinta, um modo de estender os dedos fumando; eu estava fascinado – a fascinação não é em suma, senão a extremidade do distanciamento – por essa espécie de estatueta colorida, como que de faiança, vitrificada, em que eu podia ler, sem nada entender, a causa de meu desejo)"

FRAGMENTOS DE UM DISCURSO AMOROSO
"Desculpe a meninada, mas fomos nós, da nossa geração, que conquistamos a permissividade. Claro, vocês não têm a menor ideia de como isso era antes. O que se fez, depois de nós, foi apenas atingir a promiscuidade, o ninguém é de ninguém, o não privilegiamento de nenhuma pessoa como ser humano especial (amor). Mas, quando qualquer um vai pra cama com qualquer um, sem nenhum interesse anterior ou posterior (no sentido cronológico!), uma coisa é certa reconquistamos apenas a animalidade. Cachorro faz igualzinho. E não procura psicanalista."
Millôr Fernandes

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Chapeuzinho Vermelho

Era uma vez (admitindo-se aqui o tempo como uma realidade palpável, estranho, portanto, à fantasia da história) uma menina, linda e um pouco tola, que se chamava Chapeuzinho Vermelho. (Esses nomes que se usam em substituição do nome próprio chamam-se alcunha ou vulgo). Chapeuzinho Vermelho costumava passear no bosque, colhendo Sinantias, monstruosidade botânica que consiste na soldadura anômala de duas flores vizinhas pelos invólucros ou pelos pecíolos, Mucambés ou Muçambas, planta medicinal da família das Caparidáceas, e brincando aqui e ali com uma Jurueba, da família dos Psitacídeos, que vivem em regiões justafluviais, ou seja, à margem dos rios. Chapeuzinho Vermelho andava, pois, na Floresta, quando lhe aparece um lobo, animal selvagem carnívoro do gênero cão e... (Um parêntesis para os nossos pequenos leitores — o lobo era, presumivelmente, uma figura inexistente criada pelo cérebro superexcitado de Chapeuzinho Vermelho. Tendo que andar na floresta sozinha, - natural seria que, volta e meia, sentindo-se indefesa, tivesse alucinações semelhantes.).

Chapeuzinho Vermelho foi detida pelo lobo que lhe disse: (Outro parêntesis; os animais jamais falaram. Fica explicado aqui que isso é um recurso de fantasia do autor e que o Lobo encarna os sentimentos cruéis do Homem. Esse princípio animista é ascentralíssimo e está em todo o folclore universal.) Disse o Lobo: "Onde vais, linda menina?" Respondeu Chapeuzinho Vermelho: "Vou levar estes doces à minha avozinha que está doente. Atravessarei dunas, montes, cabos, istmos e outros acidentes geográficos e deverei chegar lá às treze e trinta e cinco, ou seja, a uma hora e trinta e cinco minutos da tarde".

Ouvindo isso o Lobo saiu correndo, estimulado por desejos reprimidos (Freud: "Psychopathology Of Everiday Life", The Modern Library Inc. N.Y.). Chegando na casa da avozinha ele engoliu-a de uma vez — o que, segundo o conceito materialista de Marx indica uma intenção crítica do autor, estando oculta aí a idéia do capitalismo devorando o proletariado — e ficou esperando, deitado na cama, fantasiado com a roupa da avó.

Passaram-se quinze minutos (diagrama explicando o funcionamento do relógio e seu processo evolutivo através da História). Chapeuzinho Vermelho chegou e não percebeu que o lobo não era sua avó, porque sofria de astigmatismo convergente, que é uma perturbação visual oriunda da curvatura da córnea. Nem percebeu que a voz não era a da avó, porque sofria de Otite, inflamação do ouvido, nem reconheceu nas suas palavras, palavras cheias de má-fé masculina, porque afinal, eis o que ela era mesmo: esquizofrênica, débil mental e paranóica pequenas doenças que dão no cérebro, parte-súpero-anterior do encéfalo. (A tentativa muito comum da mulher ignorar a transformação do Homem é profusamente estudada por Kinsey em "Sexual Behavior in the Human Female". W. B. Saunders Company, Publishers.) Mas, para salvação de Chapeuzinho Vermelho, apareceram os lenhadores, mataram cuidadosamente o Lobo, depois de verificar a localização da avó através da Roentgenfotografia. E Chapeuzinho Vermelho viveu tranqüila 57 anos, que é a média da vida humana segundo Maltus, Thomas Robert, economista inglês nascido em 1766, em Rookew, pequena propriedade de seu pai, que foi grande amigo de Rousseau.

Extraído do livro "Lições de Um Ignorante", José Álvaro Editor - Rio de Janeiro, 1967, pág. 31

Millôr Fernandes

quinta-feira, 7 de abril de 2011



e

Lá vem o moço
De passo curto
De olhar profundo
De boca que
Viola meus ouvidos
e me suborna com suas
silenciosas palavras.

Maria Amélia

terça-feira, 15 de março de 2011

“Sem querer, o dedo de Werther toca o dedo de Charlotte, seus pés, sob a mesa, se encontram. Werther poderia abstrair do sentido desses acasos, poderia se concentrar corporalmente sobre essas fracas zonas de contato, e gozar esse pedaço de dedo ou de pé inerte, de um modo fetichista (...)
Gesto delicado no interior da palma, joelho que não se afasta, braço estendido, como por acaso, no encosto de um sofá e sobre o qual a cabeça do outro vem pouco a pouco repousar, é a região paradisíaca dos signos sutis e clandestinos: como uma festa, não dos sentidos, mas do sentido.”

Os Sofrimentos do Jovem Werther (1774) é um romance de Johann Wolfgang von Goethe.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011


Penico de Louça
Inflamação de cores
Catapora de dor
Cérebro mofado
Diarréia mental
Esgoto sentimental
Pereba duvidosa cutucada
Infinito ordinário
Surto
Planta no penico

da mAria quando fica aZul

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

domingo, 23 de janeiro de 2011

ESPELHO DE MARIA


Amélia,
que não era Maria,
pela janela via seus sonhos voar.
Imaginava, Maria,
poder o mundo mudar.
Falava, Amélia,verdades
com a ponta do pincel sobre o papel.
Inventava, as Marias,
imagens de uma realidade surreal.
Amélia, que era mulher de verdade,
guiava Maria, que era criança de fato.
Para Maria e Amelia do Santiago.

Hélcio Santiago

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011


Só mais três quarteirões,
tudo pelo prazer
de passar em frente ao palácio.
Os barbudos de camisa xadrez
decidem pelo sim, pelo não,
a direção de um simples
caminhar, pelo sorriso
da menina bonita,
que passa com
olhar Drummond
pela esquina lado b
da janela meio aberta
do seu olhar,
num adjetivo primário
apenas de passar.
Seguindo infausta
lira de si mesma
num contaminar de dúvidas
que nos sequestram
tudo o que há de esquisito
lá dentro de nós,
através de olhos
enferrujados
de tanto perseguir
respostas borboletas,
que sempre teimam
em voar onde
não conseguimos ler.

Maria Amélia.
Tudo que é demais logo arrebenta!

Da infância


Fui deixando cair as petecas
que guardavam meus peixes.
Fui vendo escapar as moedas
que niquelavam os domingos.
Fui perdendo meus dentes-de-leite
e o gesto de fazer borboletas.
Entretanto, ainda estou a caminho
daqueles garranchos de chão.
Qualquer coisa
que entala de branco
e machuca sem voz.

Jorge Tufic

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

"Liubliú"




AMO
..................À Lila Brik
COMUMENTE É ASSIM
. Cada um ao nascer
traz sua dose de amor,
mas os empregos,
o dinheiro,
tudo isso,
nos resseca o solo do coração.
Sobre o coração levamos o corpo,
sobre o corpo a camisa,
mas isto é pouco.
alguém
imbecilmente
inventou os punhos
e sobre os peitos
fez correr o amido de engomar.
Quando velhos se arrependem.
A mulher se pinta.
O homem faz ginástica
pelo sistema Muller.
Mas é tarde.
A pele enche-se de rugas.
O amor floresce,
floresce,
e depois desfolha.


Vladímir Maiakóvski

Ironia


A flor é perfeita
Mas termina em si fechada
Ó lindos olhos serenos
De nada me adiantaste!
A não ser
Aquela flor que tu me deste!

mAria

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Reflexão

Espalhei-me tanto...que já não posso mais me recolher. isto é bom; muito bom.

Aguinaldo da Costa

Nem tudo é tão bom por completo
E nem tão ruim por inteiro
Tempo além de dinheiro é paixão.

mAria

O medo de passar
da conta de si mesmo,
tão seguro de si,
tão alheio
do seu próprio coração.

da mAria quando fica aZul
Ô mãe, por que a gente ainda se utiliza de limpar
os sonhos na manga da camisa?
de cortar os pés nos cacos da ilusão?
Ô mãe, cuidaste da minha catapora,
hoje sou homem forte e agora posso
seguir na minha solidão.

Kleber Albuquerque
Entre duas notas de música existe uma nota
Entre dois fatos existe um fato
Entre dois grãos de areia
Por mais juntos que estejam
Existe um intervalo de espaço
Existe um sentir que é entre o sentir
É aquilo que ouvimos
E chamamos de silêncio.

Clarice Lispector.

das obrigações

Não nos livramos
Nem da obrigação
De não nos sentirmos
Obrigados a nada.

mAria

O Paraíso Perdido

O Livro de Jó

http://www.ebookcult.com.br/acervo/download.php?L=269&idu=288


"No discurso que hoje eu devo fazer, e nos que aqui terei de fazer, durante anos talvez, gostaria de neles poder entrar sem se dar por isso. Em vez de tomar a palavra, gostaria de estar à sua mercê e de ser levado muito para lá de todo o começo possível. Preferiria dar-me conta de que, no momento de falar, uma voz sem nome me precedia desde há muito: bastar-me-ia assim deixá-la ir, prosseguir a frase, alojar-me, sem que ninguém se apercebesse, nos seus interstícios, como se ela me tivesse acenado, ao manter-se, um instante, em suspenso. Assim não haveria começo; e em vez de ser aquele de onde o discurso sai, estaria antes no acaso do seu curso, uma pequena lacuna, o ponto do seu possível desaparecimento..."
Vestido de sentimento
sou tecido por um olhar.

Truck Tumleh


Não acredito em nada. As minhas crenças voaram como voa a pomba mansa pelo azul do ar. E assim fugiram, as minhas doces crenças de criança.
Florbela Espanca.

"Eu não quero ter razão, eu quero é ser feliz!"






http://literal.terra.com.br/ferreira_gullar/

"Tudo pode ser contado de outra maneira."





www.josesaramago.org
Há dentro de mim uma paisagem
entre meio dia e duas horas da tarde
o corpo é leve como a alma
os minerais voam como borboletas
tudo deste lugar
entre meio dia e duas horas da tarde.

Adélia Prado
Os dois nos
movíamos
possuídos,
trespassados, eleu.
A posse não
resultava de ação e
doação
nem nos somava
consumia-nos em
piscina de
aniquilamento.

Drummond
Conta a lenda que dormia
uma princesa encantada
a quem só despertaria
um infante, que viria
e falso, ele vem seguro
chega onde em sono ela mora
e, inda tonto do que houvera
à cabeça, em maresia
ergue a mão, e encontra hera
e vê que ele mesmo era
a princesa que dormia.

Fernando Pessoa